É a evolução recente das neurociências que proporciona os avanços mais
notáveis das pesquisas sobre consciência.
O Instituto de Ciências Noéticas tem dedicado boa parte de suas
pesquisas para estudar a relação entre a mente e a cura de doenças.
As pesquisas que o Instituto tem registrado e divulgado concentram-se em
três áreas gerais que tratam da influência da mente sobre o corpo. A primeira é a pesquisa fisiológica, que
focaliza os processos básicos que unem o cérebro e o sistema nervoso ao resto
do corpo.
O mais significativo feito dessa linha de pesquisas foi o surgimento da
psiconeuroimunologia, que busca compreender as conexões entre as atividades do
cérebro e do sistema imunológico. Até recentemente, a noção vigente era de que
essas duas partes do corpo eram totalmente independentes. Mas agora as pesquisas revelam que os neurônios
ligam-se diretamente ao sistema imunológico, "falando" na mesma
linguagem bioquímica. Também sugerem que
hormônios como a adrenalina, assim como fatores psicológicos e sociais afetam a
qualidade da resposta imunológica do organismo.
A segunda linha de pesquisas, a epidemológica, estuda os aspectos
psicológicos e sociais relacionados com o estado de doença. A psicóloga norte-americana Lydia Temoshok
constatou, ao estudar durante 10 anos portadores de um câncer de pele chamado
melanoma, que invariavelmente apresentavam um padrão de comportamento marcado
pela excessiva contração emocional, especialmente a raiva. Condoíam-se do sofrimento dos outros e se
desdobravam em atenção para agradar aos outros e a figuras de autoridade, mas
reprimiam intensamente seu próprio medo e tristeza.
Ao mudar esse padrão de comportamento, mediante tratamento psicológico,
os pacientes melhoravam notavelmente sua condição biológica. Terapias que unem
o tratamento do corpo ao tratamento da mente têm revelado um fortalecimento
sensível da resposta imunológica e extensão de tempo de vida para os pacientes.
Resultados preliminares reforçam essa evidência no Instituto do Câncer de
Pittisburgh, na Escola de Medicina da Universidade da Califórnia e no Royal
Marsden Hospital de Londres.
A terceira linha de pesquisas, a clínica, concentra-se em criar
programas de reeducação da mente para que melhore e fortaleça a saúde do
corpo. Recursos como o relaxamento e a meditação
possibilitam à mente regular funções corporais como a temperatura da pele, o
fluxo urinário e as contrações dos vasos sanguíneos. Na Universidade de Harvard, pesquisas
demonstram como a meditação, atividade que conduz à concentração mental do
indivíduo em si mesmo ou também simultaneamente num objeto externo, regula a
atividade elétrica do cérebro, geralmente baixando-as para o nível das ondas
alfa. Com isso, a meditação pode gerar o
equilíbrio físico e psicológico da pessoa, baixando a pressão arterial e o
nível de dor crônica, por exemplo.
No Centro Médico da Universidade de
Massachusetts, um programa que combina meditação, prática de ioga e grupos de
suporte psicológico tem atingido resultados parecidos. Na Escola de Medicina da
Universidade de Stanford, grupos de suporte, hipnose e técnicas de visualização criativa têm contribuído
para prolongar mais l8 meses, em média, as vidas de mulheres com câncer dos
seios.
A visualização criativa, também
chamada imaginação criativa, consiste na projeção visual mental que a pessoa faz,
na parte interna de sua testa de uma situação desejada. A técnica serve para “educar” a mente,
dirigindo a vontade para um objetivo específico ou para uma situação genérica
que se queira imaginar, como uma sensação de bem estar, por exemplo. Pode
servir também para que a “tela mental” receba passivamente uma imagem
espontânea que traduza o estado ou a situação de nosso corpo, de órgãos físicos
ou da pessoa como um todo, num dado momento.
A técnica popularizou-se a partir da chamada Teoria dos Hemisférios
Cerebrais, que garantiu ao neurologista norte-americano Roger Sperry o Nobel de
Medicina e Fisiologia de 1981.
Compreendeu-se que enquanto, na maioria das pessoas o hemisfério
esquerdo processa o pensamento lógico, tendo como linguagem a palavra, o lado
direito opera com o chamado pensamento imagético, cuja linguagem organiza-se
através de imagens.
Ao mesmo tempo, a provável eficácia da visualização já era defendida há várias décadas pelo criador da
psicossíntese, o italiano Roberto Assagioli, ao enfatizar que o primeiro dos 12
princípios que governam as forças psicológicas do homem afirma o seguinte: As imagens ou ideias ou quadros mentais
tendem a produzir as condições físicas e os atos exteriores que lhes
correspondem.
VISUALIZANDO O ESTÔMAGO POR DENTRO
O cardiologista e professor de
medicina psicossomática Dirceu Calió Rolino, de Santos, SP, utiliza um
tratamento integrado de seus pacientes. Combina os medicamentos, a alimentação,
os exercícios físicos e a terapia grupal, incluindo o relaxamento e a prática
da visualização criativa.
“Numa primeira fase, uso a visualização
criativa como forma da pessoa buscar algo dentro dela”, explica o doutor
Rolino. Algo que facilite sua mudança
interior para se recuperar.
“Numa segunda fase”, continua Rolino,
“a pessoa é orientada a se dirigir mentalmente para dentro do corpo dela. Faz uma bela viagem, onde sente as áreas que
precisam tratamento. No retorno da visualização, a pessoa vai relatar as
imagens que viu do seu próprio processo”.
Um dos casos mais impressionantes que
Rolino se lembra é o do paciente de uma colega: “Um garoto de sete anos
internado com uma úlcera hemorrágica violenta”, conta. “Ele vomitava e evacuava
sangue o tempo todo. E chorava de dor o tempo todo. O quadro familiar era
dramático. O menino era criado pela avó e um dia ela saiu para uma viagem
curta. O menino quis ir, a avó não
deixou. Na viagem ela morreu. Ele se
perdeu nisso tudo, ficou absolutamente sozinho. Não sabia o que fazer. E aí
todo o mundo dizia: “Não chore! Você é
homem! Homem não chora!” E ele chorava e
chorava e aí veio a úlcera”.
“No hospital, o cirurgião queria operar, mas precisava que melhorasse o
estado do menino. Aí entrou em ação a
minha colega, que através de um processo gradativo, conseguiu ensinar o menino
a visualizar e contar o que via no seu estômago. Ele dizia: “o meu estômago está chorando”. E
descrevia o que via, exatamente como na endoscopia, incluindo a variação da cor
do estômago, à medida que melhorava.
Parou de chorar e teve alta do hospital”.
Como se explica o efeito das imagens
sobre os órgãos?
Os médicos da medicina psicossomática,
que estuda exatamente a interferência do estado psicológico do paciente sobre o
corpo físico, dizem que somos capazes de mudar nossos padrões orgânicos através
de mentalizações. E alguns afirmam que o
instrumento mais eficaz é a meditação, porque há uma integração perfeita entre
a mente, o sistema endócrino e o sistema imunológico.
O doutor Francisco Di Biase, chefe do Departamento de Neurocirurgia e
Neurologia da Santa Casa de Barra do Piraí, RJ, lembra que na década de 70 o
cardiologista Herbert Benson, de Harvard, e o psicólogo Robert Wallace
monitoraram a prática de meditação em 36 pessoas. Mediram parâmetros
fisiológicos como o consumo de oxigênio, o débito e a frequência cardíaca, os
ritmos elétricos cerebrais e a concentração de ácido lático no sangue.
“Comprovou-se”, diz Di Biase, “que durante a meditação ocorre redução de 16% a
18% do consumo de oxigênio, contra 8% encontrado no sono”. Portanto, a meditação pode desencadear um
relaxamento mais profundo do que o sono.
“Os parâmetros cardiovasculares
caíram a níveis só encontrados em estados de relaxamento muito intensos”,
prossegue Di Biase, “enquanto os
eletroencefalogramas demonstraram uma sincronização das ondas cerebrais na
faixa do ritmo alfa, seguida por sincronização na faixa teta, correspondendo a
um padrão elétrico cerebral de repouso psicosensorial profundo”.
Conforme Di Biase, estudos publicados nos últimos vinte e cinco anos em periódicos
médico-científicos de prestígio, como Science
e o New England Journal of Medicine,
demonstram que a meditação é a técnica isolada “que mais proporciona benefícios
ao ser humano, porque o relaxamento e o repouso psicosensorial profundo é a
pré-condição básica para a atuação dos processos regenerativos auto reguladores
e auto organizadores. Esses processos permitem um melhor equilíbrio
homeostático e a otimização de todos os sistemas orgânicos”.
“O organismo humano é constituído por uma rede dinâmica de comunicações
inteligentes, operada por mais de sessenta neuropeptídios, que são mensageiros
químicos neuro e imunotransmissores sintetizados no cérebro, no sistema
endócrino e no sistema imunológico”, explica Di Biase. “Os
pensamentos, as emoções, os desejos e os impulsos de inteligência desencadeiam
a criação desses mensageiros químicos, que coordenam os processos fisiológicos
em todo o sistema orgânico, por meio de ligações a receptores específicos”,
complementa.
Neste caso, a ideia da totalidade da física
quântica tem correspondência biológica. “Nosso
corpo é uma vasta rede de comunicações em que cada célula experimenta toda a
intensidade destes fluxos de inteligência e emoção gerados por todo o sistema”,
coloca Di Biase.
É nessa interface então que se
compreende, pelo menos num nível especulativo, o que pode ter a ver a física
quântica com os processos bioquímicos do corpo.
Recentemente, o pesquisador Stuart Hameroff, da Universidade do Arizona,
passou a postular que os microtúbulos, no interior dos neurônios, são os
substratos
Físicos capazes de criar os efeitos
quânticos que permitem a emergência da consciência”, completa Di Biase. “Estruturas microscópicas como os
microtúbulos, ou mesmo as sinapses” - conexões entre os neurônios - “poderiam
desencadear a formação das interações quânticas não-locais necessárias para a
interação mente/matéria”. Por isso,
citando David Bohm, afirma que “a mente pode operar diretamente nas profundezas
da ordem implícita, o vazio pleno de energia, criador da matéria, da
consciência e das leis físicas”.
Abordagens apoiadas por esses conceitos funcionam na prática?
Na clínica que leva o seu nome, o médico de Barra do Piraí combina modernas
tecnologias de ponta, como a tomografia computadorizada e o mapeamento cerebral
computadorizado, com técnicas de meditação e visualização e terapias de
relaxamento. Dentre essas últimas, inclui atividades com o uso de técnicas de
respiração, de música, de massagens dos pés, reflexologia, da acupuntura, de
florais de Bach, de fitoterapias chinesas, flora brasileira, da homeopatia e do
tai chi chuan.
“Os resultados clínicos são muito superiores
aos obtidos com a utilização isolada da medicina ocidental”, diz Di Biase,
“principalmente no tratamento de distúrbios psicossomáticos, como as
ansiedades, a depressão, o estresse, o uso de drogas, as doenças
degenerativas, as alergias, o câncer e a epilepsia. Temos casos de pacientes psicóticos, impregnados por
tratamentos anteriores com psicotrópicos, que com o uso de terapias de
relaxamento corretas, acupuntura e antioxidantes, retornaram à vida normal”,
completa.
Autor de dois livros sobre o tema - O Homem Holístico, Editora Vozes e Natureza, Auto-Organização e Vida, que deverá ser publicado este
ano, Di Biase realiza pesquisas nesse campo há 15 anos, dentro de uma situação
tipicamente brasileira. Enquanto no
exterior a questão mente/matéria é pesquisada por instituições de porte, no
Brasil, ao que se sabe, as poucas iniciativas devem-se a esforços puramente
pessoais e isolados, principalmente de médicos e psicólogos, quase sempre
trabalhando em bases unicamente empíricas. Nesse campo, continuamos à reboque
da ciência de ponta no exterior, embora na vivência prática já contamos com
experiências extraordinárias. Como no
esporte, com o magnífico exemplo de Ayrton Senna.
Fonte: de Edvaldo Pereira
Lima gratidão pelas informações.
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